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Mesmo com safra em deterioraço, corte de produção do USDA deve ser tão conservador quant

Lavouras sofrem com a seca

A semana tem sido de muita incerteza para o mercado da soja diante não só dos problemas sentidos pelas lavouras em função das adversidades climáticas na América do Sul, mas também pela dificuldade em estimar estas safras. A temporada 2023/24 é fortemente marcada pela irregularidade. Como explicou o analista de mercado Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios, a safra brasileira está em deterioração e já não tem condiçoes de alcançar estimativas tão audaciosas, como a da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) que foi reportada nesta quinta-feira (7), de 160,2 milhões de toneladas. O corte em relação ao último número - de 162,4 milhões - foi bastante tímido e surpreendeu o setor. 

E para o boletim mensal de oferta e demanda que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) que chega nesta sexta-feira, 8 de dezembro, não deverá ser diferente e a redução também tende a ser limitada. As expectativas do mercado variam entre 156 e 161,9 milhões de toneladas, com média de 160,16 milhões. Em novembro, o número do departamento era de 163 milhões. 

Tais estimativas vão na completa contramão dos relatos que chegam dos campos brasileiros, inclusive por parte de órgãos oficiais, como o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), que em seu último reporte trouxe, inclusive, uma redução de 0,74% na área destinada ao cultivo da oleaginosa no maior estado produtor de soja do Brasil. A projeção agora é de 12,13 milhões de hectares. 

"Isso foi pautado pelo alto percentual de replantio apontado pelos informantes do Imea, estimado em 5,04% da área total prevista para oestado. Além disso, o clima quente e os longos períodos sem chuvas em vários municípios de MT têm impactado no desenvolvimento das lavouras e, em alguns talhões, já é observado o encurtamento do ciclo da soja, o que pode prejudicar no potencial produtivo da planta", informa o instituto. 

Com isso, uma redução foi estimada também para a produtividade da soja em Mato Grosso da ordem de 3,07% em relação à estimativa anterior, sendo agora esperada em 57,87 sacas por hectare.

"Por fim, com as modificações na área e na produtividade, a produção da safra 2023/24 ficou projetada em 42,13 milhões de toneladas, queda de 3,78% ante o relatório anterior", afirmaram os especialistas do Imea.

Além de Mato Grosso, todos os demais estados produtores de soja relatam problemas graves em suas safras, perdas agressivas de produtividade, sejam de por excesso de chuvas ou pela falta delas, além das altas temperaturas e a incidência de pragas e doenças. A ferrugem asiática, por exemplo, chegou mais cedo este ano, segundo informou a Embrapa Soja, e uma nova mutação do fungo já sinaliza resistência aos defensivos. 

Neste cenário, as estimativas de consultorias privadas parecem estar mais alinhadas com a realidade que os sojicultores têm vivido nas lavouras por todo o Brasil, ao passo em que variam de 150,7 milhões de toneladas - como é o número da Pátria Agronegócios - a 155,4 milhões - última projeção da Ag Resource. 

ARGENTINA

Para a safra de soja da Argentina a média das expectativas do mercado é de 54,83 milhões de toneladas, dentro de um intervalo de 53,5 e 55 milhões. Em novembro, o USDA estimou 55 milhões e, na safra anterior, a produção que sofreu com uma das piores secas da história do país, foi de apenas 34 milhões de toneladas. 

Para o milho, os números do mercado variam de 46 a 50 milhões de toneladas, com média de 48,2 milhões, frente aos 25 milhões de toneladas colhidas na temporada anterior. 

O sentimento é de recuperação para a safra argentina nesta safra, já que o El Niño costuma ser mais favorável para o país. Todavia, ainda como explicou o diretor da Pátria, há uma área considerável sofrendo com chuvas abaixo da média neste momento, o que também preocupa. 

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